“And so I ask myself: 'Where are your dreams?' And I shake my head and mutter: 'How the years go by!' And I ask myself again: 'What have you done with those years? Where have you buried your best moments? Have you really lived?" Fyodor Dostoyevsky, White Nights

domingo, 31 de outubro de 2010

Les Biches (1968)

Este filme é simplesmente brilhante, um dos melhores que já vi até hoje e o meu favorito de Chabrol. A realização e a representação são muito acima da média, é quase um filme perfeito, dentro do burlesco e do satírico.
A história começa numa ponte de Paris. Why, uma jovem, desenha "bichos" a giz numa ponte quando aparece Frederique e lhe atira uma nota de 500 000. Conversam e acabam por ir tomar café a casa desta. Tornam-se amantes e mudam-se para St. Tropez onde Frederique possui uma mansão e um vasto império. Esta personagem parece conseguir controlar e manipular tudo e todos, até entrar em cena o arquitecto Paul Thomas que se apaixona por Why. Os dois tentam desenvolver um romance, mas a poderosa Frederique, possuida por ciúmes seduz Paul com sucesso e transforma a vida de Why num inferno. Paul muda-se e passa a viver com as duas, completamente manipulado por Frederique, uma personagem bizarra e maquiavélica. Nunca durante o filme se consegue compreender quais são as suas verdadeiras intenções. Bastante curiosa é també a transformação de Why ao longo de todo o processo. Este filme é daqueles que recomendo vivamente a toda a gente. É um drama disfarçado de comédia, e há cenas em que Chabrol parece comunicar com o espectador e dizer: "sou genial ou não sou?"

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Knife in the Water

"On their way to a sailing trip, an aging husband and wife invite along an emphatic young hitchhiker out of sheer patronization"


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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Conte d'Hiver (1992)

"Felicie and Charles have a serious if whirlwind holiday romance. Due to a mix-up on addresses they lose contact, and five years later at Christmas-time Felicie is living with her mother in a cold Paris with a daughter as a reminder of that long-ago summer. For male companionship she oscillates between hairdresser Maxence and the intellectual Loic, but seems unable to commit to either as the memory of Charles and what might have been hangs over everything."

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Persona (1966)

"A nurse is put in charge of an actress who can't talk and finds that the actress's persona is melding with hers."

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The Trip (1967)

Guião por Jack Nicholson

"Paul Groves (Peter Fonda), a television commercial director, is in the midst of a personality crisis. His wife Sally (Susan Strasberg) has left him and he seeks the help of his friend John (Bruce Dern), a self-styled guru who's an advocate of LSD. Paul asks John to be the guide on his first "trip". John takes Paul to a "freak-out" at his friend Max's (Dennis Hopper) pad. Splitting the scene, they score some acid from Max and return to John's split-level pad with an indoor pool. Paul experiences visions of sex, death, strobe lights, flowers, dancing girls, witches, hooded riders, a torture chamber, and a dwarf. He panics but John tells him to "go with it, man." Would you trust John?"

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

«A maioria dos homens gasta a melhor parte da vida a tornar a outra miserável»

Marcel Proust

O país perdeu a inteligência e a consciência moral

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.

Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. (...)

O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. (...) A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»

Eça de Queiroz, 1871

A Posse Destrói Sempre o Amor

A paixão, o amor, são coisas que, quando existem, é difícil que existam. Quando você me diz: «Gosto muito de quintas», eu posso perguntar-lhe de imediato: «Tem alguma?» E você responde-me: «Tenho uma!» Então eu desconfio que isso não tem nada a ver com amor... É simplesmente o lucro, é a comodidade, qualquer coisa do género... Se, por outro lado, você me diz: «Não tenho nenhuma quinta, nem quero!», então aí já eu penso: «Este sabe o que é amar.» Como vê, são dois verbos distintos, o verbo «amar» e o verbo «ter»; a posse destrói sempre o amor.

Citações e Pensamentos de Agostinho da Silva

Liberdade é Subjectividade

Liberdade é apenas outro termo para designar a subjectividade, e qualquer dia, esta já não se aguentará a si mesma. Chegará então o momento em que se desesperará da possibilidade de criar algo através das suas próprias forças; então procurará protecção e segurança na objectividade. A liberdade conduz sempre à reviravolta dialéctica: Muito cedo, reconhece-se na delimitação, realiza-se na subordinação à lei, à regra, à coacção, ao sistema; converte-se nisso, o que não quer dizer que deixe de ser liberdade.

Thomas Mann, in "Doutor Fausto"

O Caminho da Liberdade

Invencível serás caso não te empenhes em qualquer pugna da qual de ti não dependa saíres vencedor. (...) Face a um homem entre todos distinguido e honrado, detentor de uma qualquer insígnia de poder ou considerado por esta ou aquela razão, tem-te nas tuas ideias e não descures de o proclamar feliz. Se, na verdade, a substância do bem reside nas decisões que dependem de nós, espaço não há nem para a inveja, nem para o ciúme. Aliás, tu próprio, não ansiarás por ser estratega, benemérito da pátria ou cônsul até: livre é o que tu queres ser. Ora só um caminho há para que alcances esse estado de liberdade - o menosprezo pelas decisões que de nós não dependem.

Epicteto, in 'Manual'

A Verdade é um Modo de Estarmos a Bem Connosco

Cada época, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizível e injustificável sentido de equilíbrio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridículo. E isto não é só visível no que é produto da emotividade. É visível mesmo na manifestação mais neutral como uma notícia ou um anúncio de jornal. Donde nasce esse equilíbrio? Que é que o constitui? O destrói? Porque é que se não rebentava a rir com os anúncios de há cento e tal anos? (Rebentámos nós, aqui há uns meses, em casa dos Paixões, ao ler um jornal de 186...). Mas a razão deve ser a mesma por que se não rebentou a rir com a moda que há anos usámos, os livros ridículos que nos entusiasmaram, as anedotas com que rimos e de que devíamos apenas rir. O homem é, no corpo como no espírito, um equilíbrio de tensões. Só que as do espírito, mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequência. Equilibrado o espírito, mete-se-lhe uma ideia nova. Se não é expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade é isso: a inclusão de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas. Ou: a coerência de seja o que for com o nosso equilíbrio espiritual. A verdade é um modo de estarmos a bem connosco. Mas é um mistério saber o que nos põe a bem ou a mal. Os anúncios de há cem anos eram ridículos porque sim. Nos meus escritos de há anos, mesmo nos ensaios, aquilo de que me separo não são muitas vezes as ideias, a argumentação, mas um certo modo de se olhar para os argumentos, os problemas, um certo nível humano de encarar as coisas. Leio um ensaio de há vinte anos e sinto que eu tinha menos vinte anos. Há um nível etário para a mesma verdade nos existir. A verdade de que falei há vinte anos é-me exactamente a de hoje; e todavia há um desfasamento no modo como corri para ela e me entusiasmei com ela e me comovi com ela. Tudo agora me acontece ainda mas num registo diferente. Não é em si que as verdades envelhecem: é com as rugas que temos no rosto e na alma.

Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"

Quem Somos - Rui Knopfli

Quem somos, senão o que imperfeitamente

sabemos de um passado de vultos

mal recortados na neblina opaca,

imprecisos rostos mentidos nas páginas

antigas de tomos cujas palavras


não são, de certo, as proferidas,

ou reproduzem sequer actos e gestos

cometidos. Ergue-se a lâmina:

metal e terra conhecem o sangue

em fronteiras e destinos pouco


a pouco corrigidos na memória

indecifrável das areias.

A lápide, que nomeia, não descreve

e a história que o historia,

eco vário e distorcido, é já


diversa e a si própria se entretece

na mortalha de conjecturados perfis.

Amanhã seremos outros. Por ora

nada somos senão o imperfeito

limbo da legenda que seremos.

Rui Knopfli, in "O Corpo de Atena"

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