“And so I ask myself: 'Where are your dreams?' And I shake my head and mutter: 'How the years go by!' And I ask myself again: 'What have you done with those years? Where have you buried your best moments? Have you really lived?" Fyodor Dostoyevsky, White Nights

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os Convencidos da Vida

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força.
Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
(...) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, ele julgar que lhe será mais útil.
Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajectória, o convencido da vida farta-se de cometer «gaffes». Não importa: o caminho é em frente e para cima. A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um «parvenu», a pior das «gaffes» é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro.
Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas. Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a «refaire surface». Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida - da sua, claro - para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi.

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Kaspar Hauser

Pretende este artigo analisar, sob o contexto da ética racionalista, um fato real que se deu na Alemanha, início do século XIX, quando um jovem - Kaspar Hauser (?-1833) - por circunstâncias não devidamente esclarecidas, fora mantido em cativeiro subterrâneo, da infância à adolescência, privado de contato social e sem qualquer possibilidade de alcançar real conhecimento do mundo, até que o momento em que seu algoz o liberta na praça central de Nüremberg.

A história emblemática de Kaspar Hauser tem inspirado, desde então, diversos livros e ensaios literários, psicológicos, lingüísticos, filosóficos, antropológicos, jurídicos etc, além da produção de películas cinematográficas sobre o tema. Para delimitar o campo de ação, a presente pesquisa restringiu-se a duas obras: o romance "Kaspar Hauser ou A indolência do Coração" (1908), do escritor austríaco Jacob Wassermann, e o filme "O Enigma de Kaspar Hauser" (1975), do cineasta alemão Werner Herzog.

Não há como analisar a figura de Kaspar Hauser sem equipará-la ao bom selvagem que habita as teorias do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Segundo Rousseau, as ciências - apesar de seu contínuo desenvolvimento - constituem um fator de decadência humana, haja vista que o verdadeiro progresso é de ordem moral. Dizer que o homem nasceu bom e a sociedade o corrompeu não basta, até porque seria impossível retornar ao estado pré-social. Não se trata, portanto, de voltar à natureza primitiva, mas fazer a Essência triunfar sobre a existência.

Em meio a tal contexto há de se perguntar se o homem nasce ético. Se para Platão (427-347 a.C.) o conhecimento já faz parte, a priori, do indivíduo, para Aristóteles (384-322 a.C.) ele somente pode ser adquirido com a experiência concreta, a posteriori. Considerando que a ética, tida como ciência da moral, está envolta em relações psicossociais, a resposta mais plausível a essa indagação seria a de que o ser humano não nasce ético nem antiético, podendo obter - ou não - tal virtude ao longo de seu desenvolvimento sócio-cultural.

O comportamento natural de Kaspar Hauser, como se verá, representa uma crítica ao racionalismo positivista, capaz de atingir e desmontar pretensas verdades preexistentes. Ao desafiar a lógica e todo seu sistema de argumentação racional, assume uma posição contestadora que lhe discrimina perante os outros. Ele não é reconhecido como parte da sociedade, da mesma forma que não se reconhece como parte dela.

Kaspar Hauser foi um espírito livre e preservado, mas submetido a valores que lhe eram estranhos. Tal conflito, como fio condutor das obras homônimas (o filme e o romance), assemelha-se, sob certos aspectos, ao atual conflito bioético. Por isso é que o enigma de Kaspar Hauser, jovem que acabou sendo irremediavelmente marcado pelo estigma social, nunca terá uma resposta convencional.

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sábado, 20 de novembro de 2010

O Amor é um Cão dos Diabos

"De facto não há esperança nenhuma. Estamos presos a um destino singular.
Ninguém nunca encontra o par ideal."

Charles Bukowski, O Amor é um Cão dos Diabos

Don't "try"


Charles Bukowski


Palhaçada

O Obama veio cá pôr a indústria da guerra americana a render, chular o ordenado de mais uns tropas e uns GNR's prá chassina do Afeganistão, e deu uma conferência de imprensa com uma grande narça, que os palhaços do costume patrocionaram. O jornalista da RTP parece uma adolescente histérica a comentar o percurso para o aeroporto, e destaca ter achado os portugueses.., simpáticos... Pudera!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nenhum psicanalista, em sã consciência, pode negar que um bebê seja antes de mais nada um feixe de nervos. E acolherá como bem-vindas todas as experiências que puderem avançar no conhecimento das bases neurológicas de todas as patologias. Um psicanalista acredita, porém, que o corpo de um bebê jamais sairá de sua condição de organismo biológico se não houver um outro ser que o pilote em direção ao mundo humano, que lhe dirija os atos para além dos reflexos, e principalmente, que lhes dê sentido. Assim, de nada adiantará um organismo absolutamente são se não houver quem o introduza no mundo do humano, vale dizer, da linguagem.

De outro lado, acredita o psicanalista que uma criança com sérios problemas neurológicos encontrará sérias dificuldades para encontrar um piloto capaz de fazer-lhes face. Conclusão: contrariamente a aquilo que se divulgou, e em que as mães das AMAS acreditam, um psicanalista não culpa mãe alguma. Mas a responsabiliza.

Responsabilizar uma mãe significa fazê-la perguntar-se a respeito da parte que lhe cabe na criação de seus filhos. E isto serve, diga-se de passagem, para todas as mães, convenientemente "desculpabilizadas" e desresponsabilizadas pela sociedade de massas, interessada em fazê-las deixarem seus filhos em creches e diante da televisão para correr atrás de novos valores fálicos no mundo do consumo.

Artigo

The Social Network (2010)




Les Bonnes Femmes (1960)


sábado, 6 de novembro de 2010

A Verdade é Amor - Vergílo Ferreira

A verdade é amor — escrevi um dia. Porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e não mais se pôde esquecer. É esse equilíbrio interno que diz ao pintor que tal azul ou vermelho estão certos na composição de um quadro. É o mesmo equilíbrio indizível que ao filósofo impõe a verdade para a sua filosofia. Porque a filosofia é um excesso da arte. Ela acrescenta em razões ou explicações o que lhe impôs esse equilíbrio, resolvido noutros num poema, num quadro ou noutra forma de se ser artista. Assim o que exprime o nosso equilíbrio interior, gerado no impensável ou impensado de nós, é um sentimento estético, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em. razão ou mesmo em inteligência. Porque só se entende o que se entende connosco, ou seja, como no amor, quando se está «feito um para o outro». Só entra em harmonia connosco o que o nosso equilíbrio consente. E só o consente, se o amar. Porque mesmo a verdade dos outros — a política, por exemplo — se temos improvavelmente de a reconhecer, reconhecemo-la talvez no ódio, que é a outra face do amor e se organiza ainda na sensibilidade.

Vergílio Ferreira, in "Pensar"

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Somos Uma Surpresa Para Nós Próprios

Como serão em privado as pessoas que conhecemos? Quanta surpresa se o soubéssemos. Porque nós, instintivamente, tendemos a julgá-las idênticas dentro e fora de si. Mas o que somos por fora é o que aceitamos que o seja e é o que os outros estabeleceram. Tal fanfarrão na praça pública pode ser um chilro piegas quando lá não está ou um medricas quando a coisa é a sério (Não dizia Aristóteles que os grandes atletas eram maus soldados?). Ou inversamente. O que aceita para si a imagem exterior de um mole, de um tíbio, de um encolhido de comportamento - no interior de si, e quando for caso disso, pode ser um obstinado de dente rilhado. Há um estilo de se ser que se adopta por convenção generalizada, orientação de uma época, obrigação protocolar no modo de nos manifestarmos.

(...) As regras de comportamento em grandezas chegam só à porta da rua ou ao menos da do quarto ou seguramente à da casa de banho. E daí para dentro, vale tudo, ou seja a regra somos nós. E é então que sabemos quem somos ou quem é aquele que consentimos que seja ou em que medida respeitamos em nós o que respeitamos nos outros. Mas nem é preciso talvez entrarmos na nossa intimidade. Quanta farófia se não desfaz em caca quando entra a polícia? Como se aguentaria ela, frente a um pelotão de fuzilamento? Mas o mesmo tipo revelado em fraqueza e enrolado de timidez poderia revelar-se em coragem quando a coisa fosse a doer. Tudo é tão casual. Somos tanto a invenção de nós em cada momento. Tudo é tão em nós uma fortuita conjugação de astros. Somos tão surpresa para nós próprios. Para a coragem ou o amor ou a verdade ou mesmo a inteligência. Ou o simples estar vivo.

Vergílio Ferreira, in 'Pensar'

A Procura nos Outros

Só não se basta a si próprio o que não tem com que se bastar. Assim se explica que ele busque nos outros o que lhe falta em si mesmo. Isto deve estar certo. E todavia pode não estar. O que falta no que encontramos pode não ter que ver com o que lá está, mas com o que lá se procura. O erro está pois no que se não deve procurar. Posso procurar um sistema de ideias onde só encontro uma dose de senso comum. Posso encontrar uma côdea de pão onde procurei um bife com ovo a cavalo. Assim há que ir procurar no fornecimento alheio o que nos falta no próprio - em contentamento, em pacificação, em reconhecimento da glória de que duvido ou não tenho. E no entanto, a ambição puramente individual é à nossa medida que deveria talhar-se. Excepto talvez para o que sustenta essa ambição, ou seja para o que nos sustenta. Mas nesse caso a ambição chama-se justiça e já não é individual. E nesse caso fazem-se revoluções.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente IV'

A necessidade



"A necessidade é um mal, mas não há necessidade de viver nela"


Epicuro

Liberdade com Limites

Há muitas espécies de liberdade. Umas tem o mundo de menos, outras tem o mundo de mais. Mas ao dizer que pode haver «de mais» de uma certa espécie de liberdade devo apressar-me a acrescentar que a única espécie de liberdade que considero indesejável é aquela que permite diminuir a liberdade de outrem, por exemplo, a liberdade de fazer escravos.
O mundo não pode garantir-se a maior quantidade possível de liberdade instituindo, pura e simplesmente, a anarquia, pois nesse caso os mais fortes seriam capazes de privar da liberdade os mais fracos. Duvido de que qualquer instituição social seja justificável se contribui para diminuir o quantitativo total de liberdade existente no mundo, mas certas instituições sociais são justificáveis apesar do facto de coarctarem a liberdade de um certo indivíduo ou grupo de indivíduos.
No seu sentido mais elementar, liberdade significa a ausência de controles externos sobre os actos de indivíduos ou grupos. Trata-se, portanto, de um conceito negativo, e a liberdade, por si só, não confere a uma comunidade qualquer alta valia.

Os Esquimós, por exemplo, podem dispensar o Governo, a educação obrigatória, o código das estradas, e até as complicações incríveis do código comercial. A sua vida, portanto, goza de um alto grau de liberdade; contudo, poucos homens civilizados prefeririam viver assim a viver no seio de uma comunidade mais organizada.
A liberdade é um requisito indispensável para a obtenção de muitas coisas valiosas; mas essas coisas valiosas têm de partir dos impulsos, desejos e crenças daqueles que desfrutam dessa liberdade. A existência de grandes poetas confere um certo brilho a uma comunidade, mas não se pode ter a certeza de que a comunidade produzirá grande poesia só pelo facto de não existir uma lei que a proíba. De uma maneira geral, consideramos justo que se obrigue a juventude a ler e a escrever, ainda que a maioria dos jovens preferisse o contrário; fazemo-lo porque acreditamos em bens positivos que só um alto grau de alfabetização torna possível. Mas, ainda que a liberdade não constitua o total das coisas socialmente desejáveis, é tão necessária para a obtenção da maioria delas, e corre tanto o risco de ser insensatamente limitada, que mal será possível exagerar a sua importância.

Bertrand Russell, in "Realidade e Ficção"

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mad Man

Don Draper describes love

Week End (1967)

"A supposedly idyllic weekend trip to the countryside turns into a never-ending nightmare of traffic jams, revolution, cannibalism and murder as French bourgeois society starts to collapse under the weight of its own consumer preoccupations."

IMDB






segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pickpocket (1959)

Pickpocket é um filme neo-realista com uma história relativamente simples, mas pesado a nível de emoções. O personagem principal rouba carteiras como "profissão", que leva a sério e vai aperfeiçoando. Mais do que uma necessidade, parece ser uma opção, justificada quase politicamente. Mas ao mesmo tempo que Michel nos fascina misteriosamente com uma narração solitária na primeira pessoa que nos vai dando a conhecer o seu pensamento, parece transmitir uma enorme pobreza nas relações sociais, evitando inclusivé a mãe, que se encontra numa situação complicada. Para além de Michel, temos o seu amigo Jacques e a bela Jeanne, a vizinha que toma conta da mãe, e de quem Michel abdica em favor deste. Bresson faz-nos entrar dentro da Paris dos anos 50, na difícil e complicada vida deste homem, perseguido pela polícia, vivendo no limite. Importantes reviravoltas acontecem no final, e só nessa altura compreendemos o real significado do filme. Argumento inspirado em Crime e Castigo, de Dostoievski.

"Michel takes up picking pockets as a hobby, and is arrested almost immediately, giving him the chance to reflect on the morality of crime. After his release, though, his mother dies, and he rejects the support of friends Jeanne and Jacques in favour of returning to pickpocketing (after taking lessons from an expert), because he realises that it's the only way he can express himself..."

IMDB




domingo, 31 de outubro de 2010

Les Biches (1968)

Este filme é simplesmente brilhante, um dos melhores que já vi até hoje e o meu favorito de Chabrol. A realização e a representação são muito acima da média, é quase um filme perfeito, dentro do burlesco e do satírico.
A história começa numa ponte de Paris. Why, uma jovem, desenha "bichos" a giz numa ponte quando aparece Frederique e lhe atira uma nota de 500 000. Conversam e acabam por ir tomar café a casa desta. Tornam-se amantes e mudam-se para St. Tropez onde Frederique possui uma mansão e um vasto império. Esta personagem parece conseguir controlar e manipular tudo e todos, até entrar em cena o arquitecto Paul Thomas que se apaixona por Why. Os dois tentam desenvolver um romance, mas a poderosa Frederique, possuida por ciúmes seduz Paul com sucesso e transforma a vida de Why num inferno. Paul muda-se e passa a viver com as duas, completamente manipulado por Frederique, uma personagem bizarra e maquiavélica. Nunca durante o filme se consegue compreender quais são as suas verdadeiras intenções. Bastante curiosa é també a transformação de Why ao longo de todo o processo. Este filme é daqueles que recomendo vivamente a toda a gente. É um drama disfarçado de comédia, e há cenas em que Chabrol parece comunicar com o espectador e dizer: "sou genial ou não sou?"

IMDB



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Knife in the Water

"On their way to a sailing trip, an aging husband and wife invite along an emphatic young hitchhiker out of sheer patronization"


IMDB





quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Conte d'Hiver (1992)

"Felicie and Charles have a serious if whirlwind holiday romance. Due to a mix-up on addresses they lose contact, and five years later at Christmas-time Felicie is living with her mother in a cold Paris with a daughter as a reminder of that long-ago summer. For male companionship she oscillates between hairdresser Maxence and the intellectual Loic, but seems unable to commit to either as the memory of Charles and what might have been hangs over everything."

IMDB


Persona (1966)

"A nurse is put in charge of an actress who can't talk and finds that the actress's persona is melding with hers."

IMDB






The Trip (1967)

Guião por Jack Nicholson

"Paul Groves (Peter Fonda), a television commercial director, is in the midst of a personality crisis. His wife Sally (Susan Strasberg) has left him and he seeks the help of his friend John (Bruce Dern), a self-styled guru who's an advocate of LSD. Paul asks John to be the guide on his first "trip". John takes Paul to a "freak-out" at his friend Max's (Dennis Hopper) pad. Splitting the scene, they score some acid from Max and return to John's split-level pad with an indoor pool. Paul experiences visions of sex, death, strobe lights, flowers, dancing girls, witches, hooded riders, a torture chamber, and a dwarf. He panics but John tells him to "go with it, man." Would you trust John?"

IMDB







quarta-feira, 6 de outubro de 2010

«A maioria dos homens gasta a melhor parte da vida a tornar a outra miserável»

Marcel Proust

O país perdeu a inteligência e a consciência moral

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.

Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. (...)

O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. (...) A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»

Eça de Queiroz, 1871

A Posse Destrói Sempre o Amor

A paixão, o amor, são coisas que, quando existem, é difícil que existam. Quando você me diz: «Gosto muito de quintas», eu posso perguntar-lhe de imediato: «Tem alguma?» E você responde-me: «Tenho uma!» Então eu desconfio que isso não tem nada a ver com amor... É simplesmente o lucro, é a comodidade, qualquer coisa do género... Se, por outro lado, você me diz: «Não tenho nenhuma quinta, nem quero!», então aí já eu penso: «Este sabe o que é amar.» Como vê, são dois verbos distintos, o verbo «amar» e o verbo «ter»; a posse destrói sempre o amor.

Citações e Pensamentos de Agostinho da Silva

Liberdade é Subjectividade

Liberdade é apenas outro termo para designar a subjectividade, e qualquer dia, esta já não se aguentará a si mesma. Chegará então o momento em que se desesperará da possibilidade de criar algo através das suas próprias forças; então procurará protecção e segurança na objectividade. A liberdade conduz sempre à reviravolta dialéctica: Muito cedo, reconhece-se na delimitação, realiza-se na subordinação à lei, à regra, à coacção, ao sistema; converte-se nisso, o que não quer dizer que deixe de ser liberdade.

Thomas Mann, in "Doutor Fausto"

O Caminho da Liberdade

Invencível serás caso não te empenhes em qualquer pugna da qual de ti não dependa saíres vencedor. (...) Face a um homem entre todos distinguido e honrado, detentor de uma qualquer insígnia de poder ou considerado por esta ou aquela razão, tem-te nas tuas ideias e não descures de o proclamar feliz. Se, na verdade, a substância do bem reside nas decisões que dependem de nós, espaço não há nem para a inveja, nem para o ciúme. Aliás, tu próprio, não ansiarás por ser estratega, benemérito da pátria ou cônsul até: livre é o que tu queres ser. Ora só um caminho há para que alcances esse estado de liberdade - o menosprezo pelas decisões que de nós não dependem.

Epicteto, in 'Manual'

A Verdade é um Modo de Estarmos a Bem Connosco

Cada época, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizível e injustificável sentido de equilíbrio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridículo. E isto não é só visível no que é produto da emotividade. É visível mesmo na manifestação mais neutral como uma notícia ou um anúncio de jornal. Donde nasce esse equilíbrio? Que é que o constitui? O destrói? Porque é que se não rebentava a rir com os anúncios de há cento e tal anos? (Rebentámos nós, aqui há uns meses, em casa dos Paixões, ao ler um jornal de 186...). Mas a razão deve ser a mesma por que se não rebentou a rir com a moda que há anos usámos, os livros ridículos que nos entusiasmaram, as anedotas com que rimos e de que devíamos apenas rir. O homem é, no corpo como no espírito, um equilíbrio de tensões. Só que as do espírito, mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequência. Equilibrado o espírito, mete-se-lhe uma ideia nova. Se não é expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade é isso: a inclusão de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas. Ou: a coerência de seja o que for com o nosso equilíbrio espiritual. A verdade é um modo de estarmos a bem connosco. Mas é um mistério saber o que nos põe a bem ou a mal. Os anúncios de há cem anos eram ridículos porque sim. Nos meus escritos de há anos, mesmo nos ensaios, aquilo de que me separo não são muitas vezes as ideias, a argumentação, mas um certo modo de se olhar para os argumentos, os problemas, um certo nível humano de encarar as coisas. Leio um ensaio de há vinte anos e sinto que eu tinha menos vinte anos. Há um nível etário para a mesma verdade nos existir. A verdade de que falei há vinte anos é-me exactamente a de hoje; e todavia há um desfasamento no modo como corri para ela e me entusiasmei com ela e me comovi com ela. Tudo agora me acontece ainda mas num registo diferente. Não é em si que as verdades envelhecem: é com as rugas que temos no rosto e na alma.

Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"

Quem Somos - Rui Knopfli

Quem somos, senão o que imperfeitamente

sabemos de um passado de vultos

mal recortados na neblina opaca,

imprecisos rostos mentidos nas páginas

antigas de tomos cujas palavras


não são, de certo, as proferidas,

ou reproduzem sequer actos e gestos

cometidos. Ergue-se a lâmina:

metal e terra conhecem o sangue

em fronteiras e destinos pouco


a pouco corrigidos na memória

indecifrável das areias.

A lápide, que nomeia, não descreve

e a história que o historia,

eco vário e distorcido, é já


diversa e a si própria se entretece

na mortalha de conjecturados perfis.

Amanhã seremos outros. Por ora

nada somos senão o imperfeito

limbo da legenda que seremos.

Rui Knopfli, in "O Corpo de Atena"

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Bonnie and Clyde (1967)

Obra-prima de Arthur Penn, que ontem faleceu

"A somewhat romantized account of the career of the notoriously violent bank robbing couple and their gang."

IMDB


The Wild One (1953)

"Two rival motorcycle gangs terrorize a small town after one of their leaders is thrown in jail."

IMDB







Les nuits de la pleine lune (1984)

"Louise, a young woman, who recently finished her studies in arts, is working as a interior decorator trainee. Playing the game of seduction, her life becomes more and more complicated."

IMDB






segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Claude Chabrol (1930 – 2010)


Cineasta francês Claude Chabrol morreu hoje aos 80 anos




Fundador da Nouvelle Vague, Chabrol realizou mais de 80 filmes, muitos deles retratos mordazes da burguesia do seu país

"Claude era a própria alegria de viver, não consigo imaginar que ele tenha partido", afirmou Gérard Depardieu, protagonista de Bellamy, o mais recente filme de Claude Chabrol, reagindo ontem à morte, aos 80 anos, de um dos mais prolíficos realizadores do cinema francês da segunda metade do século XX.

Envolvido com os seus amigos François Truffaut e Jacques Rivette no lançamento da Nouvelle Vague, Claude Chabrol era já um crítico de cinema reconhecido, nos Cahiers du Cinéma, quando se estreou como realizador com Le Beau Serge, em 1959. Nos 50 anos seguintes dirigiu mais de 80 filmes para cinema e televisão, muitos deles centrados na descrição minuciosa e mordaz da burguesia francesa de província.

A sua morte, provocada por complicações decorrentes de um pneumotórax, foi ontem lamentada por realizadores e actores (...) em Direito, estudos que Chabrol abandonaria para se licenciar em Letras.

Todos os testemunhos realçam a sua energia e o seu gosto pela vida, bem como a sua reputação de gourmet. Diz-se que escolhia os cenários dos seus filmes na província em função da gastronomia local.

Mais "clássico" do que outros cineastas da Nouvelle Vague, como Truffaut, Godard, Rohmer ou Rivette, nem por isso a sua obra tem uma marca autoral menos intensa, como salienta o director da Cinemateca Francesa, Serge Toubiana, notando que Chabrol foi não apenas o cineasta francês que fez um maior número de filmes na segunda metade do século XX, mas também o autor de "uma obra de uma extrema coerência, incrivelmente forte". Manoel de Oliveira argumenta no mesmo sentido, quando, reagindo a esta morte, afirma que realizadores como Chabrol "já não pertencem à Nouvelle Vague ou a outra coisa qualquer, pertencem a eles próprios".

Nascido em Paris, numa família de farmacêuticos, Chabrol começou a escrever para os Cahiers du Cinéma quando ainda frequentava a universidade e ia ganhando algum dinheiro com dedicatórias falsas de Hemingway e Faulkner, que impingia aos snobs parisienses. Casou-se novo com uma herdeira de uma família rica, o que lhe permitiu criar uma produtora, que arrancou com uma curta-metragem de Rivette.

Os seus primeiros filmes, como Le Beau Serge, um drama de província, ou Les Cousins, passado em Paris, mostram já esse olhar impiedoso, mas ao mesmo tempo bem humorado, sobre a burguesia francesa e os seus costumes que iria constituir uma das imagens de marca do seu cinema.

Em 1964 casou-se em segundas núpcias com a actriz Stéphane Audran, que protagonizará muitos dos seus filmes nos anos 60 e 70, fase em que Chabrol realiza vários policiais, entre os quais o notável Requiem para Um Desconhecido (1969). Mas a actriz de Chabrol por excelência irá ser Isabelle Huppert, que faz a sua primeira aparição em 1978, em Violette Nozière, e que protagonizará boa parte dos seus filmes dos anos 80 e 90. Na sua página do Facebook, a actriz publicou ontem uma mensagem que dizia apenas o essencial: "Claude Chabrol deixou-nos".

Retirado de: Público

domingo, 12 de setembro de 2010

Le genou de Claire (1970)

"Cultural attache Jerome spends his last holidays as a bachelor at Lake Annecy where he meets Aurora, an Italian writer and old friend. She talks him into a flirt with his landlady's teenage daughter, Laura, but he falls for Laura's half-sister Claire and develops a desire to caress her knee."


La collectionneuse (1967)

"Adrien goes to a villa on the Mediterranean. He is in vacation, and wants to do absolutely nothing. He has to share the villa with a friend, Daniel, and an unknown young girl, Haydee. Haydee has a lot of lovers, and at first, Adrien and Daniel despites her. But Adrien will be more and more attracted by her. "








To Be or Not to Be (1942)

"In occupied Poland during WWII, a troupe of ham stage actors (led by Joseph Tura and his wife Maria) match wits with the Nazis. A spy has information which would be very damaging to the Polish resistance and they must prevent it's being delivered to the Germans."



Le pont du Nord (1981)

"This is one of the most fascinating films I've ever seen. Since then, I became a serious devotee of the director Jacques Rivette, the most important filmmaker among late/post nouvelle vauge other than Eric Rohmer. While borrowing the main two characters from Don Quixote and Sancho Panza, they are trailing the city as if they were exploring inside the shell of a snail, which the city is actually constructed. The film shows you amazing scenery of Paris, absolutely not in a touristic sense. In this film, Bulle Ogier co-worked with her daughter Pascale Ogier, who played the heroine in "Les Nuits de la pleine lune" by Eric Rohmer, another unforgettable film and suddenly passed away at the age of 24, right after the film was released."


sábado, 28 de agosto de 2010

Apocalypse Now (1979)

"Vietnam, 1969. Burnt out Special Forces officer Captain Willard is sent into the jungle with top-secret orders to find and kill renegade Colonel Kurtz who has set up his own army within the jungle. As Willard descends into the jungle, he is slowly over taken by the jungle's mesmerizing powers and battles the insanity which surrounds him. His boat crew succumbs to drugs and is slowly killed off one by one. As Willard continues his journey he becomes more and more like the man he was sent to kill."




Last Tango In Paris (1972)

"While looking for an apartment, Jeanne, a beautiful young Parisienne, encounters Paul, a mysterious American expatriate mourning his wife's recent suicide. Instantly drawn to each other, they have a stormy, passionate affair, in which they do not reveal their names to each other. Their relationship deeply affects their lives, as Paul struggles with his wife's death and Jeanne prepares to marry her fiance, Tom, a film director making a cinema-verite documentary about her."

quinta-feira, 8 de julho de 2010

sábado, 19 de junho de 2010

Lenda de D. Juan



As lendas diziam que Don Juan seduzira, estuprara ou matara uma jovem moça de família nobre de Espanha, e também assassinara seu pai. Depois, tendo encontrado num cemitério uma estátua deste, jocosamente a convidara para um jantar, convite este aceito alegremente pela estátua. O fantasma do pai ali também chegara, como precursor da morte de Don Juan. A estátua pedira para apertar-lhe a mão e, quando este lhe estendeu o braço, foi por ela arrastado até o inferno.

A maioria dos estudiosos é concorde em afirmar que o primeiro conto a registrar a história de Don Juan foi El burlador de Sevilla y convidado de piedra ("o conquistador de Sevilha e o convidado de pedra"). As datas para esta publicação, entretanto, variam, em torno de 1620 até 1635, dependendo da fonte - embora haja registros de que seja conhecida na Espanha desde 1615. Segundo este conto, Don Juan é um mulherengo inveterado, que seduzia as mulheres disfarçando-se de seus amantes, ou lhes prometendo o matrimônio. Atrás de si deixa um rastro de corações partidos, até que finalmente acaba matando um certo Don Gonzalo. Quando depois é convidado pelo fantasma deste para um jantar numa catedral, acaba por aceitar, por não querer parecer um covarde.

As visões acerca da lenda variam de acordo com as opiniões sobre o caráter de Don Juan, apresentado dentro de duas perspectivas básicas. De acordo com uns, era um mulherengo barato, concupiscente, cruel sedutor que buscava apenas a conquista e o sexo. Outros, porém, pretendem que ele efetivamente amava as mulheres que conquistava, e que era verdadeiramente capaz de encontrar a beleza interior da mulher. As versões primitivas da lenda sempre o retratam como no primeiro caso.


In, Wikipédia Pt. (Wikipédia Eng.).

Mitologia Grega


Afrodite e Adônis. Cerâmica grega antiga, 410 a.C.









Putting a Propagandist Under Arrest.


Ilya Repin. Putting a Propagandist Under Arrest. 1880-1892. Oil on canvas. The Tretyakov Gallery, Moscow, Russia.



Psicologia Existencial

Introdução

Henry Miller - Sexus


Primeira frase do primeiro parágrafo do Sexus, de Henry Miller:
«Devo tê-la conhecido numa quinta-feira à noite, no salão do baile».

A obra de Henry Miller está quase toda publicada em Portugal (sobretudo pela Livros do Brasil), mas encontra-se em parte esgotada ou de difícil acesso. São por isso de saudar as recentes reedições que apareceram nas livrarias: no final do ano passado surgiu o Trópico de Câncer, na Presença, e agora acaba de sair Sexus, na Asa (originalmente publicado em 1949).
Henry Miller é um dos grandes autores norte-americanos do século XX e Sexus um dos seus melhores livros, inaugurando uma trilogia que seria completada com Plexus e Nexus. Como quase toda a sua obra, foi um livro polémico e esteve censurado nos Estados Unidos até aos anos 60. (fonte)



Gestalt therapy


Gestalt therapy

Introdução

Claude Chabrol - L'oeil du malin (1962)





IMDB



The Third Lover
L’Oeil du malin is one of the earliest and best examples of the ironic suspense thriller for which Claude Chabrol is best known. It contains all the ingredients of a Chabrolesque thriller, including a relentless, lurking sense of menace, a fragile bourgeois setting, a mounting drama which builds to an inescapable tragic resolution and, naturally, a creepy musical score. Although the film is definitively Chabrol from start to finish, it pays more than a passing homage to the work of that other master of suspense, Alfred Hitchcock.



What marks this film out as a particularly noteworthy entry in the enormous Chabrol canon are the quality of the acting performances, particularly the three lead actors. Excellently supported by Stéphane Audran and Walter Reyer, Jacques Charrier is perfect as the malicious young journalist Mercier. (James Travers, Films de France)




Wong Kar Wai-Wong - As Tears Go By (1988)

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Wong Kar Wai - Chungking Express (1994)

IMDB



Otto Rank








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