Sigmund Freud (1856-1939), o judeu austríaco fundador da psicanálise,
formou-se em medicina em Viena. Aperfeiçoou seus estudos em Paris, com
Jean-Marie Charcot, que usava a hipnose como tratamento para a histeria.
Ao romper com Charcot e com a prática da hipnose, Freud se deparou com o
mecanismo de defesa dos pacientes e pode então desenvolver a teoria do
inconsciente e sua própria técnica terapêutica, baseada na livre
associação de ideias. Para o médico austríaco, a neurose adulta era
resultado da sexualidade infantil. Em 1900, Freud publicou “A
Interpretação dos Sonhos”, seu primeiro trabalho revolucionário — obra
que ele havia terminado anos antes mas que guardou para lançá-la no
despertar de um novo século. Ele tinha razão ao adiá-lo: o século 20 foi
o tempo de Sigmund Freud. Em 1938, quando os nazistas anexaram a
Áustria, depois de terem banido a psicanálise da Alemanha, Freud imigrou
para a Inglaterra em companhia de sua Anna, que se tornaria conhecida
como psicóloga infantil. Freud morreu de câncer na garganta.
Entrevista conduzida por
George Sylvester Viereck,
publicada no seu livro: “Glimpses of the Great”, publicado em 1930, e
republicada no livro: “A Arte da Entrevista: Uma Antologia de 1823 aos
Nossos Dias,” organizado por
Fábio Altman (Scritta 1995).
“Setenta anos de idade me ensinaram a aceitar a vida com alegre humildade.”
Quem fazia essa declaração era o professor Sigmund Freud, o grande
explorador austríaco do lado oculto da alma. Assim como o trágico herói
grego Édipo, cujo nome está tão intimamente ligado aos princípios
fundamentais da psicanálise, Freud confrontou a Esfinge sem receio. Como
Édipo, ele decifrou o enigma. Pelo menos, nenhum mortal chegou tão
perto dos segredos do comportamento humano quanto Freud.
Freud é para a psicologia o que Galileu foi para a astronomia. É o
Cristóvão Colombo do inconsciente. Ele abre novas perspectivas, sonda
novas profundezas. Freud alterou todas as relações na vida, decifrando o
sentido oculto das regras do inconsciente. Conversamos na casa de
veraneio de Freud em Semmering, uma montanha nos Alpes Austríacos, onde
os vienenses elegantes adoram se reunir. A última vez que vira o pai da
psicanálise, ele estava em sua casa simples na capital austríaca. Os
poucos anos que separavam a minha última visita desta de agora
multiplicaram as rugas na sua testa e aumentaram a sua palidez
acadêmica. Seu rosto estava abatido, sofrido. A mente estava ativa, o
espírito firme, a cortesia impecável como sempre, mas uma leve problema
de fala me preocupou.
Parece que uma doença maligna no maxilar superior necessitara de uma
operação. Desde então, Freud usa um aparelho mecânico para facilitar a
fala. Na verdade, não há diferença entre o uso desse aparelho ou de
óculos. Ele deixa Freud mais constrangido do que os visitantes. Depois
que conversamos com ele por algum tempo, o aparelho se torna quase
imperceptível. Nos dias em que Freud está bem, nem se percebe a presença
dele. Mas para Freud, ele é causa de constante irritação. |
Sigmund Freud — Eu detesto o meu maxilar mecânico
porque a luta com o mecanismo consome uma força preciosa. Mas é melhor
ter um maxilar mecânico do que nenhum. Ainda prefiro viver a morrer.
Talvez os deuses sejam generosos conosco, tornando a vida mais
desagradável à medida em que envelhecemos. No final, a morte parece mais
tolerável do que os muitos problemas que temos que enfrentar. |
(Freud se recusa a admitir que o destino tenha sido rancoroso com ele.)
Sigmund Freud — Por que, eu devia esperar por algum
tipo de privilégio? A idade, com seus visíveis desconfortos, chega para
todos. Ela atinge um homem aqui, outro lá. O seu golpe sempre atinge
uma parte vital. |
Sigmund Freud — Não me revolto contra a ordem
universal, afinal vivi mais de setenta anos. Eu tive o que comer.
Desfrutei de muitas coisas — do companheirismo da minha esposa, dos meus
filhos, do pôr-do-sol. Eu vi as plantas crescerem na primavera. Algumas
vezes recebi um aperto de mão amigo. Uma ou duas vezes encontrei um ser
humano que quase me entendeu. O que mais eu posso querer? |
George Sylvester Viereck — O senhor é famoso. O seu trabalho
influencia a literatura de todo o mundo. O homem olha para si e para a
vida com olhos diferentes por sua causa. E, há pouco tempo, quando o
senhor fez 70 anos, o mundo se uniu para homenageá-lo — com exceção da
sua própria universidade!
Sigmund Freud — Se a Universidade de Viena me
aceitasse, eu teria me sentido muito constrangido. Não há razão para
eles me aceitarem ou à minha doutrina porque eu estou com 70 anos. Não
dou nenhuma importância ilógica aos números. A fama só chega quando já
estamos mortos, e, para ser franco, o que acontece depois da morte não
me interessa. Não aspiro à glória póstuma. A minha modéstia não é
nenhuma virtude.
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