“And so I ask myself: 'Where are your dreams?' And I shake my head and mutter: 'How the years go by!' And I ask myself again: 'What have you done with those years? Where have you buried your best moments? Have you really lived?" Fyodor Dostoyevsky, White Nights

quinta-feira, 19 de março de 2015

5 Elementos da Felicidade Para C. G. Jung

“Em 1960, o jornalista Gordon Young perguntou a Jung, “O que você considera ser mais ou menos os básicos fatores que fazem a felicidade na mente humana ? ”Jung respondeu com cinco elementos:

1. Boa saúde física e mental;
2 . Boas relações pessoais e íntimas , como os do casamento, da família e amizades;
3. A faculdade de perceber a beleza na arte e na natureza;
4 . Padrões de vida razoáveis e trabalho satisfatório;
5 . Um ponto de vista filosófico ou religioso capaz de lidar com sucesso com as vicissitudes da vida.
Jung, sempre consciente do paradoxo, acrescentou: “Todos os fatores que são geralmente assumidos para fazer a felicidade podem, em determinadas circunstâncias, produzir o contrário. Não importa como ideal a sua situação possa ser, ela não garante necessariamente a felicidade”.

1. Boa saúde física e mental

Evidente que é mil vez melhor estar saudável fisicamente do que doente. Estar doente, nem que seja com um resfriado, afeta o nosso estado psíquico e podemos passar a sentir como se estivéssemos amuados, tristes, macambúzios. Entretanto, doenças crônicas não impedem de todo a felicidade. Nem mesmo doenças mentais específicas trarão a infelicidade de uma vez por todas.
Mas de fato, uma boa saúde física e mental ajuda em muito. Portanto, se a busca que você empreende nesta vida é a busca pela felicidade, procure lembrar-se do lema “mente sã em um corpo são” (mens sana in corpore sano). Cuide de seu corpo e não deixe de cuidar de sua saúde mental (emoções, sentimentos, pensamentos, motivações, etc).

2. Boas relações pessoais e íntimas

Em um texto que provocou reações acaloradas aqui no site, algumas pessoas defensoras da misantropia, afirmaram que a sociedade não tem mais jeito. Que as pessoas são más. Que não vale a pena o esforço de criar relações sociais agradáveis e positivas.
Evidente que precisamos de momentos de solitude. Aqui explico a diferença entre solidão e solitude.
Podemos discordar de políticas econômicas, do rumo de certas questões éticas ou morais, porém, viver totalmente isolado das pessoas não parece uma decisão sensata se a busca é a felicidade.
Esses dias vi um documentário de presidiários nos EUA que são obrigados a ficar em uma cela por anos, totalmente isolados. Em seus olhares, nota-se claramente uma profunda tristeza, que é a tristeza de não ter quem ouvir e não ser ouvido.
Claro que o objetivo deste ponto não é ter um milhão de amigos íntimos. Poucos, raros, como dizia Drummond em seu poema de sete faces, são suficientes para aumentar o nosso nível de felicidade.

3. A faculdade de perceber a beleza na arte e na natureza

Platão dizia que o princípio da filosofia (o amor à sabedoria) era Thaumazein – θαυμάζειν. Admiração, espanto, perplexidade. Embora exista muita controvérsia quanto ao significado deste conceito, ele nos é útil aqui para pensarmos a respeito da nossa capacidade de perceber a beleza natural e artística.
Por exemplo, se você olha um filhotinho de elefante – ou um animal de preferência – não há como não se comover. Não há como não se espantar pelo fato de a matéria ter vida… observar um pôr-do-sol, o nascer do sol, as estrelas… do mesmo modo que observar um Renoir, um Rembrandt, um Monet!
Desenvolver este lado de admiração pela beleza e espanto pela vida se relaciona com a felicidade porque no fundo também estamos agradecendo por esta beleza, além do fato de que desperta a vontade de entender melhor o sentido (ver elemento 5).

4 . Padrões de vida razoáveis e trabalho satisfatório

Pesquisas apontam que não existe realmente uma relação direta entre dinheiro e felicidade. Mas isso não implica que viver uma vida miserável é idêntica a viver uma vida feliz. Não ter o que comer, não ter onde dormir, não ter acesso à condições mínimas de vida implica sim em um sentimento de infelicidade.
O que as pesquisas apontam é que, a partir de um certo limite, a relação dinheiro e felicidade se equilibra. Ou seja, subir de 5 mil por mês para ganhar 50 mil ou 500 mil não aumenta proporcionalmente a sensação de felicidade diária.
O outro ponto é o trabalho satisfatório. Jung frequentemente fala em seus textos da importância de ter um trabalho. Um trabalho cotidiano pelo qual o sujeito se sinta responsável e sinta que está contribuindo com a sociedade. É um ponto importante em sua psicoterapia.

5. Um ponto de vista filosófico ou religioso capaz de lidar com sucesso com as vicissitudes da vida

Talvez este seja o elemento mais controverso. Jung é muitas vezes tido como um místico. Porém, é fácil de entender o que ele quer dizer quando aponta a necessidade de se ter um ponto de vista filosófico ou religioso para lidar com as intempéries da vida.
Em outras palavras, não é preciso ser religioso. Não é preciso ir até uma instituição religiosa. Mas é necessário, ao menos, ter e compreender os próprios pressupostos filosóficos. Ou seja, qual o sentido de estarmos aqui? Qual o sentido de haver sofrimento? Dor? Como lidar com a morte?
Todas estas – e outras questões – são importantes. Pode ser que passemos anos ou até décadas sem refletir muito sobre tais questões. Contudo, mais cedo ou mais tarde vamos ter que refletir e pensar sobre tudo isso.

Conclusão

E como entender o fato de Jung dizer o contrário ao final da pergunta? Por qual motivo ele diz:
“Todos os fatores que são geralmente assumidos para fazer a felicidade pode, em determinadas circunstâncias, produzir o contrário. Não importa como ideal a sua situação possa ser, ela não garante necessariamente a felicidade”.
Ele diz isso porque um dos princípios mais fortes em sua psicologia é o conceito de enantiodromia, que vem desde Heráclito. Em poucas palavras, podemos dizer que a enantiodromia é a tendência psíquica da transformação dos opostos. Quando vamos muito para uma direção, há uma tendência na direção oposta. É o que ele também nomeia como compensação do inconsciente.
No Seminário sobre Psicologia Analítica, ele fala: “O inconsciente do homem, como eu disse, forma imagens de pessoas perfeitas; mas, quando o homem procura realizar estes tipos de herói, desperta no inconsciente uma outra tendência, [uma tendência], a tentar destruir a imagem. Assim surge a mãe terrível, o dragão devorador; os perigos do renascimento etc” (JUNG).
Por isso, quaisquer dos 5 elementos citados no texto podem – se levados a um extremo – produzirem um efeito contrário ao pretendido. Por exemplo, ter relações íntimas é, como vimos, um elemento para se encontrar a felicidade. Porém, ir ao extremo e depender de uma outra pessoa para ser feliz só vai causar infelicidade.

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